Em Xanxerê, sacolas de supermercado viraram ferramentas no combate à violência doméstica
Quando o próprio lar deixa de ser um local seguro, muitas mulheres acabam sendo silenciadas e sentem-se paralisadas diante da violência. Nesses casos, cabe à sociedade encontrar meios de estender a mão a essas vítimas e lhes apresentar informações que possam ajudá-las a encontrar o caminho para se libertar de seus agressores.
O projeto idealizado pela empresária xanxerense Michele Calliari Marchese, faz exatamente isso - leva informação para dentro da casa das mulheres, com o disque denúncia da Polícia Civil estampado em sacolas de supermercado. A mensagem alcança as vítimas de forma simples, mas eficiente, lembrando-as de que não estão totalmente sozinhas.
A ideia surgiu da inquietação despertada após pesquisas e um estudo de campo para a realização de um artigo de conclusão de curso, que tratava do tema da violência contra a mulher. Uma frase dita por uma personagem encontrada por Michele em uma de suas visitas ao interior, lhe deixou bastante incomodada: “Eu não posso sair daqui”.
“Aquela mulher me dizendo que não podia sair de onde ela estava, eu nunca vou esquecer. Isso foi em 2021. E, eu não pude fazer nada. Então, pensei no que eu poderia fazer em relação a essas pessoas e passei muito tempo depois pensando nisso até que um dia me veio a ideia das sacolas. Esse projeto não estava ligado ao curso que eu estava fazendo, mas [a pesquisa] foi algo que me fez ter mais vontade de ajudar”, conta a idealizadora do projeto.
Para que a ideia se tornasse realidade, Michele contou com o apoio da Polícia Civil, através do delegado Fernando Callfass, a quem ela já conhecia. A primeira conversa foi informal, mas plantou no delegado a vontade de levar adiante. “O delegado Fernando disse que apoiava a minha ideia e pediu para entregar o projeto para ele e eu o entreguei”, conta Michele.
A influência do delegado reuniu entidades, prefeitura e supermercadistas. A primeira reunião ocorreu em março deste ano e logo a ideia se transformou no projeto Mulher Segura, realizado pela Diretoria da Polícia da Fronteira da Polícia Civil de Santa Catarina (Difron) e PC por Elas.
Ainda segundo Michele, a ideia foi abraçada de imediato pelos supermercadistas e hoje as sacolas plásticas estão espalhadas por mercados e demais comércios de Xanxerê de outras cidades da região. A mensagem vem sendo difundida também através de banners, folders e outdoors pela cidade, que contam com patrocínios. O objetivo é conscientizar a população que todos devem estar vigilantes contra a violência doméstica e denunciar. Pois, é preciso, sim, “meter a colher”.
Violência doméstica em SC
QUARENTA E TRÊS é o número de mulheres mortas em Santa Catarina, vítimas de feminicídio, somente em 2023. Em 2022, 56 perderam a vida no estado em decorrência de violência doméstica ou menosprezo à condição de mulher. A região Oeste lidera o ranking estadual desse tipo de violência por anos consecutivos.
Na maioria das vezes elas são mortas com armas brancas (objetos cortantes ou perfurantes), em segundo lugar está o emprego de armas de fogo. Seus principais algozes são seus próprios companheiros, ex-companheiros, ou outras pessoas próximas.
Neste ano, mais de 21 mil medidas protetivas de urgência já foram requeridas em Santa Catarina entre janeiro e setembro, segundo dados do Tribunal de Justiça do Estado, destacados no Observatório da Violência Contra a Mulher, da Alesc - Sistema integrado de informações de violência contra a mulher no estado de Santa Catarina.
Peça ajuda e denuncie
Qualquer pessoa que presenciar ou suspeitar de que alguém está sendo vítima de violência doméstica pode denunciar, se identificando ou não, através dos canais:
WhatsApp da Polícia Civil: (48) 98844-0011
Delegacia virtual: delegaciavirtual.sc.gov.br
Polícia Civil: 181
Polícia Militar: 190
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