Violência nas escolas: como falar com crianças e adolescentes e por que o diálogo é fundamental
Os casos recentes de violência no ambiente escolar, ocorridos no Brasil, têm potencializado um clima de apreensão e o próprio medo nas famílias, estudantes e profissionais que atuam nesses locais. Diante dessas situações, a importância do diálogo onde as crianças e os jovens estão é ressaltada. Inclusive para falar sobre casos delicados como os ataques, de forma a passar mais segurança para eles.
Atentado a uma creche de Blumenau/SC, no dia 5 de abril, deixou quatro crianças mortas e pelo menos outras cinco feridas (Foto: Secom)
Zilmara Aparecida Maciel, psicopedagoga, psicóloga e gestora escolar, de Xanxerê, explica que o acolhimento e a escuta são fundamentais em momentos assim. “Primeiramente, é necessário que os pais estejam atentos aos seus filhos e suas mudanças comportamentais. Posteriormente que desenvolvam uma escuta ativa sobre quais são seus medos e inquietações e, ainda, permitam-se ouvir as crianças primeiro para saber o que chegou até elas”, diz Zilmara em entrevista ao Tudo Sobre Xanxerê.
“E somente partindo dessa escuta sem julgamentos, os pais podem contribuir para uma ampliação da compreensão da criança sobre aquilo que ocorreu. E assim, acolhendo a criança verdadeiramente, fazendo-a identificar seus sentimentos, estando e sendo presença na vida dela, mencionando que tanto os pais quanto os responsáveis pelas unidades escolares estão trabalhando para a segurança dela”, pontua.
A profissional explica, ainda, que os pais devem estar preparados para acolherem seus filhos de forma assertiva, sem gerar mais pânico ou ansiedade. Ela lista algumas dicas de como abrir esse diálogo com as crianças, que por vezes nem tem total compreensão do que aconteceu.
- Crie um ambiente seguro e acolhedor para que as crianças possam expressar seus sentimentos e medos sem julgamentos ou críticas;
- Seja empático: é importante que os adultos compreendam as emoções e sentimentos das crianças, mostrando empatia e se colocando no lugar delas;
- Explique a situação de forma adequada à idade e maturidade da criança, respondendo suas perguntas de forma honesta e aberta;
- Mantenha uma rotina: isso pode ajudá-las a sentirem-se seguras e tranquilas em meio a situações incertas;
- As crianças podem sentir-se assustadas com os acontecimentos. É importante oferecer suporte emocional, mostrando que os adultos estão ao lado delas e que juntos vão enfrentar as dificuldades;
- Ajude a criança a encontrar formas de lidar com o medo. Algumas ações que podem ajudar é ensinar técnicas de respiração, meditação, dentre outras.
“Lembrando sempre de que cada criança é única e pode ter suas próprias necessidades e formas de lidar com as situações. Mas, o importante é estarem atentos e disponíveis para auxiliá-las”, pontua a psicopedagoga, psicóloga e gestora escolar.
Adolescentes
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
Segundo a especialista, embora os adolescentes possam ter um entendimento mais claro do que acontece, eles ainda estão em fase de desenvolvimento e são vulneráveis a sentimentos de medo e insegurança.
“Nesse sentido, uma abordagem adequada envolve ser empático, respeitar o espaço do adolescente, explicar as informações de forma clara e acessível e encorajá-los a falar sobre suas preocupações e perguntas. É importante lembrar que a escuta ativa e a disponibilidade para ajudar são cruciais para que o adolescente se sinta seguro e confortável para compartilhar suas experiências e buscar ajuda, caso necessário. É importante também que os pais, professores, gestores e orientadores estejam preparados para lidar com essas questões e ofereçam apoio emocional e informacional”, explica.
Zilmara destaca ainda a importância de os pais conhecerem as amizades dos filhos, principalmente nessa fase, assim como estarem atentos a mudanças comportamentais e manterem o diálogo constante. “E orientar para que os adolescentes não satirizem os eventos, chamando-os à responsabilidade moral diante das notícias de tragédia. E que ao saber de algo diferente ocorrendo no seu ambiente escolar comunique os responsáveis imediatamente”, complementa.
Exposição ao ambiente online
O acesso a aparelhos celulares e computadores é oferecido às crianças cada vez mais cedo e a profissional em psicologia e educação alerta sobre os malefícios disso a saúde e o desenvolvimento dos pequenos. Segundo ela, é preciso que sejam estabelecidas regras.
“É importante estabelecer regras claras sobre o uso da internet em casa, como horários permitidos, conteúdo apropriado e quais informações podem ser compartilhadas online. É importante que os pais eduquem seus filhos sobre os perigos da exposição digital, como o cyberbullying, o compartilhamento de informações pessoais e o acesso a conteúdo inapropriado”, comenta.
Ela sugere, ainda, o uso de ferramentas para auxiliar no controle do que os filhos acessam. “Existem várias ferramentas de controle parental que podem ajudar os pais a monitorar a atividade online de seus filhos, como filtros de conteúdo, limites de tempo e bloqueios de sites. Isso não é invasão de privacidade, é segurança. Eles são crianças e adolescentes que ainda necessitam da orientação e cuidado dos pais para sua segurança”, afirma.
Apoio psicológico dentro e fora das escolas
Para a profissional, a presença de profissionais aptos a conversar com as crianças e adolescentes nas escolas é uma estratégia muito importante para evitar que problemas sejam potencializados e para promover a saúde mental dos alunos.
“No entanto, é notório que nem todas as redes de ensino possuem profissionais da psicologia disponíveis em suas unidades escolares”, pontua Zilmara. “Dessa forma, sugiro que todos os profissionais e pais possam dividir responsabilidades quanto a identificação de fatores relevantes e auxiliarem dentro de suas competências”.
Ela também lista algumas atitudes que podem ser tomadas:
- Pais e profissionais da educação podem auxiliar na prevenção e identificação precoce de problemas emocionais e comportamentais em alunos. Muitos sinalizadores ocorrem dentro da sala de aula e logo são repassados aos pais, que podem auxiliar também estando mais próximos de seus filhos e buscando ajuda com profissionais da psicologia.
- Promoção do bem estar: profissionais psicólogos das redes de saúde local podem auxiliar as unidades escolares realizando palestras, orientando sobre hábitos saudáveis, estresse e ansiedade, relacionamento interpessoal e desenvolvimento de habilidades socioemocionais.
- Orientação aos pais e professores: palestras informacionais promovidas pelo Corpo de Bombeiros e Polícia Militar sobre como agir em situações semelhantes aos eventos. Identificar alunos com mudanças comportamentais, observação de qualquer situação diferenciada em sala de aula. Sobre como lidar ou saber realizar o encaminhamento em situações socioemocionais ou comportamentais dos alunos.